/// O POVO DISCRETO


6.700 quilómetros em 2 dias. 2 dias a comer comida de avião em 4 aviões permanentemente atrasados. Uma mistura de portugueses e holandeses. E chineses. Chuva e frio em Amsterdão. Prosseguir a viagem com uma mistura de holandeses com filandeses. E mais chineses. Mais frio e ainda mais chuva em Helsínquia. Uma visita rápida pela cidade com um taxista que sabia mais sobre o funcionalismo soviético do que muitos professores universitários. E sobre motos no geral. Um dia a passear pela área portuária e pelos parques na companhia de dois belgas impecáveis que bem podiam ser suecos. Ou noruegueses. Tentar perceber como funciona este povo, discreto, que não gosta de ser fotografado e que vai aos mercados no exterior mesmo com camadas de neve e gelo com mais de um metro. Um povo que fala suomi, sueco, russo e inglês. E que parece uma mistura destes todos. Um povo bem educado e que não gosta de ser incomodado. E, muito menos, de incomodar. De regresso ao aeroporto com uma espécie humana raríssima: um taxista honesto. Greves no aeroporto na viagem para a Alemanha. Menos chuva e mais cinzas em Frankfurt. Uma corrida inacreditável de uma ponta à outra do maior aeroporto europeu para não perder o avião. E um regresso espantoso dentro de um avião fretado com o irresistível charme do português emigrante.

"Excuse me, can you move just a lit bit to the side, so that the rest of the people in this plain can find their sits?"
"Ai o caneco, ó Carla filha, agarra-me aí na mala, mas com cuidadinho que isso é Doce Cábana e custou os olhos do cu ao meu Ermelindo, coitadinho (risos). Ai filha, já nao me aguento nestes saltos. Nao sei como é que a Júlia aguenta um programa de 3 horas nuns destes. Sabes que ela tem uns iguais aos meus nao sabes?"

Chegar por fim, são e salvo. Viva Lisboa e o calor de Maio. Acho que preciso de uma bebedeira...

Fotografia de TTC, modificada. Todos os direitos reservados.

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