STYLE No.23

/// VIDA BARATA SIM. IMPINGIDA NÃO.

Hoje fui à Primark, a meca das compras, qual feira de Carcavelos reinventada. Já assumi aqui uma vez que até gosto da loja, sobretudo para reabastecer daquilo a que a minha irmã chama de 'básicos'.

Porém, assisti hoje a algo que me deixou um pouco perplexo. Poderão achar uma reacção exagerada, mas foi a porta que a própria situação abriu que me fez pensar.

Num charriot estavam devidamente arrumadas e etiquetadas algumas camisas masculinas de fato.

Até aqui tudo bem.

Mas acontece que, dentro da embalagem de cada camisa, estava já uma gravata devidamente colocada. Uma camisa às riscas com uma gravata encarnada. Uma em xadrez com uma gravata roxa. Uma lisa com uma gravata azul. E por aí adiante. Um pacote do género 'leve 2 pague 1' mas relativamente a estilos.

Eu poderia gostar da camisa de um pacote e da gravata de outro, por exemplo. Poderia, mas não daria para adquirir os dois artigos de que gostava, sem adquirir os dois pacotes. No fundo, estes são pacotes de estilo em que, por dez euros, nos decidem imediatamente que camisa assenta com um determinado estilo de gravata, ou vice-versa. Um estilo premeditado, uma escolha obrigatória.

Estarei a ser exagerado? melodramático? fantasioso? Afinal, o que as marcas fazem, com todos os coordenados de desfile, as fotografias de campanhas, os anúncios de revista e as montras apelativos não é precisamente isso: impingirem-nos um estilo?

Talvez até seja, mas a verdade é que quando perguntei se havia as camisas sozinhas, sem o seu inevitável par de gravata, a senhora olhou para mim como quem olhava para um louco que não não vê dois palmos à frente dos olhos e não aproveita a espectacular oportunidade de aquirir aquele conjunto impecável por apenas 10 euros.

Associações livres que me levam para longe dos lugares onde me encontro. Neste caso para longe de uma megastore de onde as pessoas saem sempre de sacos cheios, uns com a cara feliz de quem adquiriu roupa nova, que muitas vezes nem necessitava, outras com a cara aflita de quem viu a carteira mais leve.

Defendo que se compre roupa barata. Tirando aqueles artigos que duram uma vida, a maioria das vezes podemos, e devemos, adquirir os básicos a preços acessíveis.

Roupas baratas, escrevi eu. Não impingidas.

Junto-me também às manifs do nosso país e digo: Inventemo-nos! Reinventemo-nos! Isto é uma ordem, sob pena de começarmos todos a combinar as mesmas camisas com as mesmas gravatas. E lá vem o ditado: "se todos gostássemos da mesma cor, que seria do amarelo?"

P.S. - Ao jeito de associação livre que me caracteriza nestes dias mais etéreos, tive uma ideia que até poderá ser bastante engraçada. A seu tempo, revelá-la-ei.


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