/// FEELING LIKE 16 AGAIN


Quando fiz 16 anos, os meus pais ofereceram-me uma moto. Não era a melhor moto do mundo, nem a mais gira, mas era minha. Senti, pela primeira vez, o ar na cara, a passar para dentro do capacete e senti-me livre. A vida, em si, pouco ou nada tinha mudado mas, por uma qualquer razão, senti-me um dos miúdos mais felizardos do mundo. Com o tempo, migrei para o interior de um carro e a moto foi andando sucessivamente pelas mãos dos meus irmãos que, por sua vez, também foram migrando. A moto, essa, lá continuou, arrumada na garagem atafulhada dos meus pais, até ao dia em que me lembrei de a trazer para a minha nova casa, no centro, não menos atafulhado, de Lisboa. A moto está doze anos mais velha, tal como eu, com mais cicratizes de pequenos acidentes e mais barulhos de coisas re-arranjadas. Mas a sensação de estarmos os dois na estrada, do ar fresco a passar pela cara e daquela sensação única de frio nos dias quentes continua exactamente a mesma de quando tinha 16.

Quando, há uns dias, entrei no atelier com este capacete na mão, o efeito foi magnético. "Tu agora tens uma moto?" Foi com um misto de gozo e saudosismo que expliquei que não, não era agora que tinha moto, que a moto era também a minha adolescência e que já tinhamos tido um sem-número de bravas aventuras. O capacete estiloso era a única coisa nova ali, e passar despercebido foi coisa que não conseguiu, nem mesmo para o meu amigo David, a quem quase tudo passa ao lado, que com um tão simples "já o mostraste no blog?" me resolveu dois problemas: o de explicar a sensação que de revisitação ao passado que tenho sentido com a chegada da Primavera e o de saber o que escrever neste mesmo post.

Capacete em pele preta e branca, comprado na loja do Sr. António, em Santo Amaro de Oeiras. Feito em Águeda, segundo o próprio (60€).

Fotografias de TTC, modificadas. Todos os direitos reservados.

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