/// BALLET IS NOT FOR BOYS



Todos os dias, a seguir às aulas, pegava na mochila e no saco desportivo e seguia silencioso pelo passeio cheio de árvores. Enquanto esperava pela minha mãe no portão, ficava a vê-lo no caminho do sol, até ser apenas um ponto. Falava pouco. Não era pessoa de se infiltrar em conversas alheias, nem tão pouco gostava de dar explicações a intrometidos. Um dia, por uma razão inesperada, aproximámo-nos. Uma amizade despreocupada e desinteresseira que o destino fez crescer. Eu continuava intrigado com aquele saco desportivo e a pergunta, inevitavelmente, surgiu. Sem responder, convidou-me a acompanhá-lo, depois das aulas. Entrámos por uma porta velha que parecia segurar um edifício prestes a ruir. O ar abafava gritos histéricos de miúdas, mas quando entrámos no balneário, estava vazio. Com os gestos precisos de quem repete a tarefa diariamente, tirou as roupas elásticas. Despiu as largueironas que tinha e vestiu-as, meticulosamente, antecipando um momento solene.

Tu danças aquela dança das raparigas?
Chama-se ballet e a minha professora diz que não é para quem quer, mas para quem pode.

E com isto virou-se e deixou-me sozinho naquele balneário húmido. Nunca vi ninguém dançar tão bem.

Fotografias de CK, School of American Ballet, Conservatory of Dance, modificadas. Todos os direitos reservados.

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