/// HERDEIRO DO MEU PASSADO


Lembro-me de como gostava dos seus sorrisos e do medo que sentia quando se enfureciam. Lembro-me das suas vozes autoritárias e das suas gargalhadas. Dos seus momentos de ternura, tão característicos, e dos conselhos simples mas sábios. Um era conhecido pelo bom senso, o outro pelo sentido bom que extrai da vida. Um era de esquerda, o outro é de direita. Um gostaria de ter sido um aventureiro viajante do século XIX, o outro nunca teve medo da vida. Ambos dizem que o mundo nunca teve bem e que, hoje mais do que nunca, é hora de mudar as coisas. Para um, o estilo masculino reside na austeridade britânica, para o outro nos homens que vestem sem medo. Um sentia-se confortável com um lenço de seda a forrar o pescoço por dentro do colarinho, o outro não consegue separar a arte de bem-vestir de uma boa gravata. Não me lembro qual dos dois me ensinou a fazer um nó correcto. Ambos me inspiraram para o que sou hoje e, em ambos, reside também uma boa parte de mim. Um herdei da parte paterna, o outro da materna. Um ainda vive, o outro infelizmente já não. Os meus avôs.

Camisa de ganga Massimo Dutti (40 €)
Gravata H&M (10€)
Casaco de malha azul escura (do meu avô)

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