INTERVIEW No.2

/// O MO.MENTO DE BRUNO ELIAS

NAF / O que é para ti a Moda?

BE / Moda para mim é método, originalidade, trabalho, inspiração, dedicação, dor, angústia, paixão, amor, satisfação, nervosismo... Ainda gostava que as pessoas vissem o que é a Moda, acho que devia propor uma reportagem a um canal de televisão que acompanhasse todo o processo que um designer tem até à apresentação. Considero que é importante mostrar o que é o nosso trabalho, as nossas angústias, o “medo” do público, o nervosismo no backstage, os problemas que surgem, o styling, etc., para que sejamos vistos com novos olhos. Moda não é uma apresentação, moda é um processo.

NAF / O que pensas quando desenhas? Como é esse teu mundo onde cabem as criações que nos apresentaste?

BE / Normalmente tenho sempre o mesmo público-alvo em mente e a colecção é desenvolvida nesse sentido, para que o consumidor se reveja de colecção em colecção.

Quanto ao mundo onde cabem as criações é preciso recriá-lo sempre que vou desenvolver algo, é uma espécie de ritual . Lembro-me que quando tinha de estudar biologia, por exemplo, tinha de procurar a caneta que escrevesse o azul mais claro. Agora continuo igual, tenho um ambiente que já conheço que me faz criar, e este envolve um bom CD, música alta, um sketchbook e deixar fluir...

NAF / Para quem consideras que se destina o estilo da tua colecção?

BE / Este ano decidi afastar-me do meu público-alvo. É comum criar sempre para o mesmo segmento, e a mulher será sempre maravilhosa, feminina e elegante, mas decidi cortar nesta colecção.

5t4dio, a.k.a. the Studio 54th é, para mim, uma colecção cápsula (como se fosse uma colecção paralela a outra que eu considero colecção principal), e tinha como consumidor-tipo uma rapariga mais jovem, que goste de se divertir e ser o centro das atenções, com coragem para brilhar, e é um colecção de noite para ser usada numa discoteca ou em uma festa.

NAF / Há 30 anos, Ana Salazar desbravou o caminho da afirmação da moda portuguesa no estrangeiro. Como caracterizas a moda em Portugal? Estamos hoje como estávamos há 30 anos?

BE / Considero que a Moda Portuguesa evoluiu graças aos eventos Moda Lisboa e Portugal Fashion que têm trabalhado para a difundir.

Não considero que estamos como há 30 anos atrás. Lembro-me de ter lido um estudo feito na Faculdade de Arquitectura que mencionava nomes de alunos que estavam a trabalhar com grandes nomes da Moda. Não posso confirmar nenhum em especifico, mas penso que existiam portugueses a trabalhar na Vuitton, Jean Paul Gaultier, etc.. Estamos ou não mais a frente do que esperavam?
NAF / Um estilista internacional? E um nacional?

BE / Gucci e Lanvin, não consigo dizer ou separar um do outro. Nacional, o Nuno Baltazar.

NAF / Onde te vês daqui a 10 anos?

BE / Espero poder dizer que vivo em Milão e que todos os dias tenho de compartilhar a sala com a Frida Giannini (Gucci) ou tomar o pequeno-almoço em Paris com o Alber Elbaz (Lanvin) enquanto se discute sobre a forma de uma das mangas. Quem sabe não estarei a viver em Nova Iorque e estarei a assistir a uma produção fotográfica porque a Anna Wintour quer as fotografias para ontem e o meu telefone não pára de tocar com ela a perguntar: “ Are you there?!”
Quem sabe? Talvez não seja necessário esperar 10 anos!

Fotografias cedidas por Ivo Mendes. Todos os direitos reservados.


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